Uma campanha terrível leva o Cruzeiro à Série B
Dívidas milionárias, quatro técnicos e apenas sete vitórias no Brasileirão levam a Raposa para o buraco

O Cruzeiro caiu pela primeira vez em sua história. Uma campanha desastrosa de um elenco caro, um dos mais badalados do Brasil no início da temporada, levou a Raposa para a Série B.
E a derrocada cruzeirense começou fora de campo. Dívidas milionárias e uma direção completamente perdida, encabeçada por Itair Machado, que foi demitido do cargo de vice-presidente de futebol em outubro, levaram o clube para o buraco.
O caos financeiro em que o Cruzeiro se meteu afetou o desempenho da equipe dentro das quatro linhas.
O time iniciou 2019 na ponta dos cascos. Foi campeão mineiro invicto e fez a segunda melhor campanha da fase de grupos da Libertadores. Mas tudo ruiu no Brasileirão.
A primeira derrota do ano veio apenas na rodada de abertura do Campeonato Brasileiro. No dia 27 de abril, o Cruzeiro foi ao Maracanã e perdeu por 3 a 1 para o Flamengo. Começava ali uma trajetória terrível no torneio nacional.
Eliminado da Libertadores nos pênaltis, para o River Plate, nas oitavas de final, o Cruzeiro desandava no Brasileirão e se aproximava perigosamente do Z4.
O clube celeste se agarrou à Copa do Brasil. Chegou às semifinais contra o Inter. E foi a derrota por 1 a 0 para o Colorado, no primeiro jogo do confronto, no Mineirão, que provocou a saída de Mano Menezes. O treinador deixou o clube após uma sequência muito negativa: apenas uma vitória em 18 partidas.
Rogério Ceni é "fritado" pelo elenco
Para o lugar de Mano, o Cruzeiro resolveu ousar. Apostou em Rogério Ceni, que vinha de ótimo trabalho no Fortaleza.
O novo treinador chegou disposto a fazer uma revolução na equipe. Barrou alguns medalhões, contou com o apoio da torcida, e chegou a vencer o seu primeiro jogo: 2 a 0 sobre o Santos, no Mineirão.
Mas a filosofia de Rogério não foi aceita por alguns grandes nomes do elenco celeste. Jogadores como Thiago Neves e Edílson, por exemplo, entraram em conflito com o treinador. Veio a eliminação na Copa do Brasil, com derrota por 3 a 0 para o Inter no segundo jogo da semifinal, e logo depois o Cruzeiro foi goleado pelo Grêmio, por 4 a 1, no Independência.
Com relacionamento ruim com o grupo de jogadores, Rogério foi demitido após empate sem gols com o Ceará, no Castelão. Em oito jogos no Cruzeiro, o treinador venceu dois, empatou dois e sofreu quatro derrotas.
Abel não consegue tirar o time da lama
Depois da saída de Ceni, a Raposa investiu na experiência. Abel Braga estreou com derrota por 1 a 0 para o Goiás, no Serra Dourada.
Após o revés em Goiânia, Abelão conseguiu emplacar uma sequência de 11 jogos sem perder, mas com apenas três vitórias.
A série invicta terminou na goleada aplicada pelo Santos: 4 a 1. Em seguida, veio a derrota por 1 a 0 para o CSA, em pleno Mineirão, com uma péssima atuação da equipe, e Abel entregou o cargo ali mesmo, sentindo que não conseguia fazer o time jogar bem.
O técnico campeão do mundo pelo Internacional em 2006 fez 14 jogos no comando da Raposa. Venceu apenas três, empatou oito e perdeu outros três.

Abel não conseguiu ajustar o Cruzeiro (Vinnicius Silva/Cruzeiro)
Adilson não pontua e queda é confirmada
Faltando três rodadas, o gestor de futebol do Cruzeiro, Zezé Perrella, anunciou Adilson Batista, que acabara de ser demitido do Ceará.
Adilson havia feito um bom trabalho no clube mineiro há uma década, quando foi bicampeão estadual e vice da Libertadores de 2009.
Mas não conseguiu evitar o desastre. Comandou o Cruzeiro em três jogos. Perdeu os três. Levou 1 a 0 do Vasco, em São Januário, sofreu 2 a 0 do Grêmio, em Porto Alegre, e, por fim, sucumbiu ao Palmeiras, no Mineirão: 2 a 0.
A queda cruzeirense, improvável no início do Brasileirão, se materializou da pior maneira possível. Com torcedores revoltados entrando em confronto com a polícia dentro do Mineirão.
Um triste fim de ano para um dos maiores clubes do país. O Cruzeiro terá que se reconstruir em 2020 para voltar à elite do futebol nacional em 2021, quando completará 100 anos de história.

Revolta e vandalismo: torcida do Cruzeiro protagonizou cenário de guerra no Mineirão (Getty Images)
Campanha do Cruzeiro no Brasileirão
36 pontos, sete vitórias, 15 empates, 16 derrotas, 27 gols marcados e 46 gols sofridos
*Nas últimas oito partidas o time marcou apenas um gol. E foi na goleada sofrida para o Santos, na Vila Belmiro.