Opinião: "Caso Figueirense: greve também é um direito no futebol"
Derrota por W.O. na segunda principal liga do futebol brasileiro expõe problemas estruturais do país

O mundo futebolístico acompanhou com expectativa, nesta terça-feira, se os atletas do Figueirense iriam ou não entrar em campo diante do Cuiabá, na Arena Pantanal, em partida válida pela 17ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro.
Acabou que não foram a campo, e o Figueira perdeu por W.O, com um resultado contrário de 3 a 0. O motivo da rebelião são os intensos atrasos salariais no clube. O direito de imagem não é pago desde maio, enquanto o valor em carteira do mês de julho ainda não foi pago.
Também há os não recolhimentos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço).
A decisão por parar surgiu na última sexta-feira, quando atletas não se reapresentaram depois da derrota para a Ponte Preta, no Orlando Scarpelli. O que se estendeu durante o fim de semana, fazendo a diretoria do clube se mobilizar e prometer, no último domingo, que o mês de julho e os direitos de imagem atrasados seriam quitados no próximo dia 28.
Os atletas não aceitaram e divulgaram um comunicado exigindo o pagamento até terça-feira, dia do jogo contra o Cuiabá. Caso não fosse cumprido o que pediam, não entrariam em campo, o que veio a acontecer. Até chegaram a ir ao estádio, mas voltaram para a concentração com o não pagamento minutos antes do confronto.
O Figueirense "hoje" é um clube-empresa, chamada de Figueirense S.A.. Um grupo de investidores, por meio da empresa "Elephant", gere o clube desde 2017, quando começou a valer o contrato de parceria por 20 anos. O Figueirense Futebol Clube é dono de 5% das ações, não tem poder de decisão na gestão, apenas de fiscalizar.
Greve também é um direito no futebol
Não é necessário dizer que todo trabalhador merece receber os salários em dia. Isso não é diferente no futebol. A greve também é um direito universal para aqueles que não têm seus direitos atendidos por quem manda.
Menos necessário dizer que todo mundo tem conta para pagar. Porque mesmo se usasse o salário apenas para se divertir, por exemplo, ainda assim é um direito. Todos fazem o que quiser com o que ganham com a força do próprio suor.
Nessas situações, ninguém pede nada além daquilo que lhe é de direito: receber pela venda da força de trabalho. Apesar da derrota por W.O., os jogadores do Figueirense se saíram vitoriosos.
Há de se destacar a união de todos eles para que isso acontecesse, principalmente pela diretoria considerar "falta ao trabalho". Chega a ser petulante você cobrar algo quando não cumpre com a sua parte.
Cabe ressaltar que ninguém defende a irresponsabilidade. Depois de tentativas de diálogo que se arrastam desde julho, não houve um acordo por parte da diretoria, que não fez o seu trabalho. Para uma situação chegar a ponto de greve, é porque ela está insustentável, até pelas promessas não cumpridas dos dirigentes.
- Falta diálogo. O clube quer os atletas em campo, mas não quer dialogar ou assinar algum termo de compromisso que, se a empresa não pagar até o dia 28, acontece a rescisão do contrato. Isso foi refutado pela diretoria-executiva - afirmou o advogado dos jogadores, Felipe Rino.
Os atletas fazem isso para, inclusive, chamar a atenção para o momento catastrófico por qual passa o Figueirense, seja dentro ou fora de campo, o que caminha junto. Como eles mesmo disseram em manifestações nas redes sociais: "Paramos hoje, pela sobrevivência do amanhã".
Caso Figueirense expõe realidade do futebol brasileiro
Os salários atrasados não são problemas exclusivos do Figueirense. Infelizmente, é a realidade do futebol brasileiro, seja no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Pernambuco. De norte a sul, nos clubes da elite ou de divisões inferiores.
Se o caso Figueirense criasse moda, haveria uma revolução no futebol brasileiro. Mas falta união aos atletas do futebol brasileiro. Há uns anos, surgiu o Bom Senso FC, que lutava pelos direitos dos atletas, mas morreu com pouco tempo de vida.
Tudo que for feito para melhorar a qualidade de trabalho e ter os seus direitos garantidos sempre é bem-vindo. Mas falta diálogo, comunicação. Seja entre jogadores-jogadores, jogadores-diretorias, jogadores-CBF etc.
A CBF assiste a esses casos de camarote, sem se mover. Mesmo que estude em implantar o fair play financeiro no futebol brasileiro a partir de 2020. Isso é urgente. Para ontem! Apesar do sentimento de que, mesmo implantado, não será praticado.
O Brasil vive um mundo paralelo da civilidade!
**O texto não expõe o pensamento do Futebol Brasil**